24.5.05

O nosso verdadeiro nome



E, ao fim de 11 anos, o Benfica volta a conquistar o título de campeão. As quinas voltam à manga esquerda da nossa camisola, seu lugar por excelência e de onde andaram perdidas por mais tempo que o habitual. Vê-se, até na crise, a nossa grandeza: bastaram-nos onze anos para reerguer o troféu máximo do futebol português, enquanto que nenhum dos outros "grandes" (e quão grandes podem ser, ao nosso lado?) esperou menos de 18 para fazê-lo.
O Benfica ganhou à Benfica. Sofrendo até ao fim. O golo de Simão parecia ser o princípio de grande festança, mas Éder fechou "a jaula" antes que o gigante se soltasse de vez. A ânsia cresceu, mas o resultado era bom. Intervalo e segunda parte. Roíam-se unhas, rezava-se. Simão, a fechar a época em total entrega, podia ter dado novo balão de oxigénio às hostes encarnadas logo no primeiro minuto do segundo tempo, mas Khadim, em dia de mostrar que não é grande só em centímetros, desviou para canto. Sofria-se a bom sofrer e o Porto marcava. Um golo do Boavista e a festa resvalaria imediatamente para tremenda desilusão colectiva. A defesa aguentava e o ataque insistia, mas não havia maneira de fazer o segundo. Até que, a dois minutos do fim, o estádio irrompe em delírio: golo da Académica. Já ninguém se calava e, se alguém restava sentado - como eu, em casa -, não mais se sentaria até ao fim do jogo. E que final! Pedro Henriques apitou e foi tempo de festa! Gritar CAMPEÕES como nunca antes, abraçar quem estava ao lado e sentir a emoção apertar e a cabeça rodopiar, como onze anos de frustração a esvaírem-se pelo ralo. Depois, abrir a varanda e, apenas com esboços das primeiras buzinadelas na rua, gritar outra vez, mais alto ainda, ecoando pelas ruas circundantes: CAMPEÕEEEEEEESSS!!!
Depois de arrumar a casa - por sinal, de um portista, mas que tem trazido grande sorte em jogos do Benfica -, hora de sair para a rua, tejadilho e vidros abertos, CD dos Diabos quase no máximo! O trânsito estava de loucos, era um coro de buzinas a dar som a um caleidoscópio de piscas e luzes de travões. Ninguém andava, todos cantavam, todos em festa pelo Benfica campeão. Não cheguei às Avenidas, mas encontrei um lugar a 20 metros delas. E o resto da noite fez-se a pé. Descer a Liberdade em cânticos repetidos até à exaustão, mas com um sorriso nos lábios e molas nos pés. Campeões, campeões, nós somos campeões!
A meio, uma mostra de revoltante mau-perder: um qualquer atrasado mental, num Grad Cherokee, entra na Avenida, junto ao Hotel Turismo, de pé no acelerador. Ao vê-lo, cheguei-me ao passeio e fiz-lhe sinais para ir com calma. Nem de propósito. Dez metros depois, o cabrão atropelava uma rapariga e nem do carro saiu para ver como ela estava. Voltei para trás, com vontade de apertar a garganta de alguém, mas o boi fugiu antes que as pessoas à volta se apercebessem do que se tinha passado. Felizmente, a rapariga levantou-se sem problemas e continuou o seu caminho. E eu também...
A festa no fundo da rua era menor que no início, por isso não houve dúvidas: subir outra vez! Asma? Qual asma?!? O Benfica é campeão! No cimo, mais cantoria, mais saltos, mais festa. E fome. O mata-bicho foi no McDonald's, de onde assisti a uma carga da PSP sobre um grupo de rapazes que estavam num jardim ali ao lado. Não sei o que tinham feito, mas o arraial de bastonada e a perseguição em louca correria pela Avenida Central pareceram-me exagerados. Estômago cheio, segunda dose de festa. No muro que ladeia a saida do túnel, mesmo em frente à Casa do Benfica, tempo para assistir e tirar fotografias. Escusado era o arremesso de petardos para junto das pessoas, que poderia ter magoado alguém. Apesar de a festa estar boa, não havia tanta gente na rua como eu esperava. Talvez a proximidade do Porto tenha levado muitos a ir comemorar para junto dos jogadores.
Antes de voltar a casa, tempo para dar uma volta pelas zonas mais calmas da cidade e arruinar o sossego do povo. Buzinar aqui e ali, junto a algumas casas em maior sossego, só para lembrar que o Benfica tinha voltado e a noite era vermelha, de paixão, de sangue e da águia.
Sofá, finalmente. As pernas já pediam. Longa se tornou a espera até às quatro, altura em que os jogadores chegaram à Luz. Não gostei da diferença abismal de recepção aos guarda-redes. Quim entrou primeiro, saudado com um simples aplauso, e Moreira, logo a seguir, foi recebido com estrondosa ovação. Isto pode dar para o torto... Já com todos em palco, aquilo que se esperava: invasão de campo, inevitável, previsível e, ao fim e ao cabo, natural. Não percebi o porquê do drama dos comentadores da televisão. A culpa, afinal, não e só da falta de civismo, mas também da segurança do recinto. Nada que, em minha opinião, tenha "acabado com a festa", como muitos disseram. Enfim, tudo visto, hora de recolher. Em casa, finalmente, tempo para pendurar a bandeira de Portugal sob o cachecol que esteve toda a semana na varanda, em jeito de confiante esperança no título que acabava de chegar. Cansado, deitado, tempo apenas para um pensamento:

Parabéns, rapazes. Parabéns e obrigado!

PS - acordei tarde, depois da festa, como é óbvio; depois de telefonar para o Porto a dizer que ia chegar atrasado, o chefe liga de volta a dizer que não preciso de ir... vantagens de ter um manda-chuva benfiquista!

PS 2 - Novo cabeçalho no blog, com as quinas, para que não restem dúvidas. Deu trabalho, mas desconfio que não vai durar muito... para a semana pode vir a Taça e não vai, certamente, ficar esquecida!

2 Comments:

At 10:14 da manhã, Blogger JoaoLynch said...

a Dobradinha é JÁ A SEGUIR !!

 
At 9:05 da tarde, Blogger Hugo Gama said...

"É que é já, a seguir!"

Essa do patrão benfiquista foi ouro sobre... (nem vou referir essa cor!)
:)

 

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