30.5.05

Era para ter vindo a voar, mas...


Pois é, como dizer...? Levámos no lombo! OK, a tareia não foi assim tão grande, mas ficar sem a Taça - que era nossa, diga-se - custa um bocado, ainda por cima em ano que podia ser de dobradinha. O Benfica entrou mal no jogo, mas disfarçou com um penalty cheio de manha, lance típico em que o avançado adianta a bola e espera que o guarda-redes caia na esparrela - o de ontem caiu. Com 1-0 no marcador, a festa começava a pintar-se de vermelho, mas seria sol de pouca dura, já que os novos campeões não souberam impor o seu futebol e levar o Vitória às cordas. Simão, Petit e Manuel Fernandes ficavam furos (crateras?) abaixo do que é habitual e, em consequência disso, o meio-campo perdia consistência e os espaços para os sadinos cresciam a olhos vistos. O lance do golo espelha bem o desacerto da defesa: todos fizeram cerimónia na hora de chutar para longe e até a habitual muralha (Rocha de seu nome) falha um corte relativamente fácil, traindo Moreira. Tudo empatado, mas claro ascendente para o Setúbal, que não só empatava como estava solidamente a tomar o comando do jogo. Apesar disso, o Benfica estava longe de sufocar. Os encarnados tinham mais posse de bola e levavam mais vezes o jogo para a frente - só que na hora de finalizar, nada resultava. Nuno Gomes ainda tentou um toque em habilidade, mas a bola encontrou um defesa e foi para fora. No lance de maior perigo para as redes sadinas na primeira metade (à excepção do penalty, claro), o guardião Moretto bateu a bola contra Nuno Assis e por pouco não acabava atraiçoado pelo excesso de confiança. No seguimento do lance, a bola sobra para Simão que, com dois colegas na área, cruza para as mãos do guarda-redes vitoriano.
O 1-1 ao intervalo era reflexo de um rebuscado equilíbrio: o Benfica com maior posse de bola mas pouca eficácia, o Vitória com escassas ocasiões mas aproveitamento altíssimo. A segunda parte nada trouxe de novo. Se o Benfica estava inconsequente, assim se manteve nos segundos 45 minutos, dando azo a que o Setúbal pudesse espreitar um golpe de sorte para ganhar vantagem. Manuel Fernandes, em excelente trabalho individual, ainda procurou o que doutra forma se não conseguia, com um fabuloso remate de meia distância, parado a custo por Moretto. O tal lance de sorte chegaria a 18 minutos do fim. Moreira defende para a frente um remate forte que parte de fora da área (mas bem à vista do guardião encarnado) e Meyong não tem dificuldades em facturar na recarga. Era o princípio do fim do sonho, que já há muito se percebia que o Benfica não tinha pulmões nem cabeça para fintar o destino. O Vitória conqusitava, assim, merecidamente a terceira Taça da sua história, revelando-se osso duro de roer para os da Luz: em quatro finais, duas vitórias para cada lado.
Feito o filme do jogo, queria deixar mais algumas considerações:

- TRAP: a semana não foi famosa para o italiano. A conquista do título deixou-o a tocar o céu, mas a novela do regresso a Itália foi um fardo de que não se livrou. As mexidas opcionais no onze titular revelaram-se falhadas e a raposa deixou fugir uma galinha que lhe escapa desde sempre - a dobradinha.

- MOREIRA: com perfeita visibilidade da bola no lance do segundo golo, Moreira faz uma defesa desastrada para a frente, permitindo ao Setúbal ganhar vantagem no marcador. O guarda-redes já reconheceu culpas na jogada, mas isso não desfaz o mal: Moreira acusou a pressão e deu razão aos que preferem Quim na baliza. Além disso, não se livrou de algumas assobiadelas por demorar a colocar a bola em jogo, ainda com o resultado em 1-1. Para os mais esquecidos dos motivos que o levaram ao banco, Moreira fez uma verdadeira visita guiada ao passado recente. O amor, no entanto, é e será cego...

- FYSSAS: mal, o grego. Muito mal, aliás. Mal na exibição, nos passes falhados, na falta de sentido posicional e nas jogadas que consentiu pela sua faixa do terreno. Dos Santos já era desejado na primeira parte... Muito mal, depois, na hora da substituição, contestando a decisão do técnico sem qualquer sinal de consciência da má exibição que estava a realizar. Se, a determinada altura, Fyssas foi relegado para o banco, ontem percebeu-se inequivocamente o porquê da decisão.

- PETIT: é um jogador útil, mesmo quando joga mal. Ontem não estava nos seus dias, mas fartou-se de recuperar bolas. O pior era depois... passes falhados, remates desastrados, livres sem direcção. Um dia mau no trabalho.

- MANUEL FERNANDES: a doença que afectou Petit estendeu-se ao companheiro do meio-campo. Manuel Fernandes parecia ontem um jogador vulgar e isso basta para dizer quão mal lhe correu a tarde. Honrosa excepção para o excelente remate da segunda parte.

- NUNO GOMES: o mal é antigo, mas atingiu ontem um pico. O avançado já deu provas de que não se sente à vontade com a bola, tem problemas na recepção, não sabe jogar de frente para a baliza e, por cada lance que constrói, arruina dois ou três. Ontem fez rigorosamente zero. Tentou um golo de calcanhar, no primeiro tempo, mas isso não chega para quem tem a seu cargo o ataque do Benfica. Nuno Gomes pode ser um bom avançado, fixar bem os adversários, criar preciosos espaços; como ponta-de-lança é péssimo! Não seria mau rever as condições contratuais do 21 e procurar um substituto capaz de fazer um mínimo de 15 golos por época. Serão os Liedsons tão raros neste mundo?!

- GABRIEL ALVES: já não há paciência para este papagaio que a RTP insiste em impingir-nos a cada jogo de bola. Hoje esteve particularmente irritante: que o Benfica estava jogar mal, todos vimos; que o Gabriel Alves fizesse alarde disso a cada cinco minutos, pareceu-me exagerado. Não se arranja outro comentador mais sereno? Mais ao jeito do Mourinho, no Portugal-Espanha do Euro 2004?

Pronto. Acho que não me esqueci de nada. Falta só deixar os parabéns ao digno vencedor e esperar pelo próximo troféu, com o título de campeão orgulhosamente guardado no bolso!

E NINGUÉM PÁRA O BENFICA, E NINGUÉM PÁRA O BENFICA, E NINGUÉM PÁRA O BENFICA, ALLEZ, OOOOHHHHHH! ;)