1.12.07

O erro clássico

Estou a escrever este post enquanto vejo o jogo do Benfica.
Admito que as expectativas para esta partida ficaram mais altas depois do jogo com o Milan, na última quarta, em que fizemos uma exibição de grande nível. E os primeiros minutos de hoje pareciam fundamentar a ideia de que a equipa tinha encontrado o caminho para um sistema funcional e complicado de suster, como o Milan já tinha comprovado in loco.
O lance em que Nuno Gomes se isola, aos 53 segundos (e consegue incrivelmente fazer com que a bola nem a direcção da baliza leve) parecia, por um lado, indicar que o Benfica poderia chegar à baliza contrária com relativa facilidade se fosse capaz de manter a toada da segunda parte do jogo de quarta-feira. Só que, por outro lado, foi também o exemplo perfeito do maior problema com que a equipa lida actualmente: ineficácia. Na noite europeia, o Milan fez três remates à baliza do Benfica e marcou um golo. Para o mesmo efeito, o Benfica precisou quase do triplo: oito.
Apesar deste primeiro desperdício (que viria a ter sequela no minuto 2 da segunda parte), o jogo do Benfica estava a mostrar fluidez e velocidade, o que lhe garantia alguma dominância nos minutos iniciais.

Só que algo começou a correr mal. Primeiro nas alas, onde o Benfica teimava em afunilar jogo e não se mostrava capaz de jogar simples, para quem estava em condições de receber uma bola sem sobressaltos. O problema alastrou, depois, à recepção de bola. A equipa estava quase exemplar nas recuperações mas, com a mesma facilidade com que desarmava, também se encarregava de cometer algum erro que entregava o jogo ao adversário. E é a partir daí que o Benfica perde o controlo das operações e abre cada vez mais espaços na defesa, aproveitados sempre em velocidade ora por Sektioui, ora por Quaresma, que numa das ocasiões em que aparece pela direita acaba mesmo por marcar, algo que se adivinhava desde que o primeiro, o marroquino, do mesmo lado, rematou muito perto do poste.
Rui Costa teimava em não aparecer no jogo, muito por força da insistência colectiva em atacar pelas alas, tendência que afastou a bola dos terrenos mais centrais que o 10 pisa com maior frequência. A organização ofensiva ressentiu-se dessa "ausência" e, na prática, o que se viu foi que o Benfica não conseguia incomodar Helton, muito menos pensar em marcar.

A segunda parte abriu como a primeira: Nuno Gomes aproveita uma falha da defesa para aparecer pela segunda vez na cara de Helton. Sem instinto matador, o 21 rematou forte mas ao alcance do guarda-redes. Reforçava-se a ideia - que não precisava de reforço... - de que não existe, na Luz, um jogador capaz de "resolver" (como dizem alguns vizinhos) em momentos cruciais. Os níveis de concretização do Benfica são simplesmente miseráveis e nem a relativamente recente goleada de 6-1 ao Boavista (que vai valendo ao Benfica o título de melhor ataque da Liga) disfarça o problema. Nuno Gomes é uma pobre desculpa de avançado; Cardozo não justifica um valor de 4.5 milhões de Euros, muito menos o de 9 que por ele pagámos; Bergessio também não parece ter as características necessárias para desempenhar o papel. E depois há atitudes difíceis de compreender por parte de Camacho, que não dá qualquer hipótese a Dabao, que mostrou serviço nos juniores na última época, e insiste em não dar a Adu mais de 10 minutos para salvar a honra do convento. Curiosamente, na primeira vez em que tocou na bola, o norte-americano obrigou Helton a aplicar-se a fundo para evitar o empate. Falta aqui Mantorras, mas esse parece cada vez mais longe de ser uma opção válida. E a equipa continua, assim, a conviver com um problema que se arrasta - no mínimo - desde 2003, ano em que Nuno Gomes, Sokota, Mantorras e Fehér já eram poucos para tanto problema no ataque. Mas o problema maior, como agora se vê, não estava apenas na quntidade.

Mas, voltando ao jogo, a atitude do Benfica na segunda parte foi a que se esperava. Assumir as despesas do jogo - o que não equivale ao domínio, já que nunca foi capaz de se impor claramente - e tentar fazer o golo da igualdade. Antes de Adu rematar forte à entrada da área, já Nuno Gomes tinha desperdiçado uma terceira oportunidade na cara de Helton, cabeceando por cima da trave. A bola que lhe chega não é perfeita, é certo, mas a sensação que fica é a de que, quaisquer que sejam as condições do lance, Nuno Gomes tem um rendimento baixíssimo.
Até ao final, as investidas do Benfica não foram mais do que um ténue esforço para tentar evitar a primeira derrota em mais de um ano, o que acabou por não suceder.

Resta agora encontrar explicações para um desempenho tão mau da linha ofensiva e para a insistência de Camacho em colocar Di Maria e Cardozo, quando já se tinha visto, há três dias, que esses tinham sido - a par com Nuno Gomes - os elementos mais fracos numa equipa que parece querer acordar para uma nova dinâmica. O argentino, aliás, ainda não mostrou ser capaz de se integrar na equipa, abusando dos lances individuais, de algumas simulações - se bem que hoje ficou com o pé preso debaixo de Fucile, dentro da área, não se justificando o cartão amarelo que acabou por ver - e de erros desnecessários que comprometem o ataque benfiquista.
Estou convencido de que este onze inicial é o melhor caminho para o sucesso da equipa, desde que se encontre o tal finalizador para jogar na posição do Nuno Gomes e alternativas mais fortes para o banco, de forma a que, quando as substituições acontecerem, não se note uma quebra de rendimento tão acentuada como se viu hoje e na quarta-feira.
Na terça há mais. No frio da Ucrânia, o Benfica joga a passagem à taça UEFA ou o adeus à Europa. Esperemos que, à terceira, a sorte esteja do nosso lado.